quinta-feira, 8 de abril de 2010

Sonho não enche barriga...

Quando decidi fazer faculdade de Ciências Sociais, o que mais ouvi foi: vai fazer o que com isso? virar professora? você é muito sonhadora, pensa que vai mudar o mundo...mas sonho não enche barriga de ninguém! Mas mesmo assim, insisti. Fiz o que queria fazer...e nunca fui mais feliz do que no dia que pisei na faculdade pela primeira vez, como aluna...eu, finalmente era uma bixete! Nunca esqueço do dia em que desci a rampa da Unesp de Marília, indo pra minha primeira aula, à noite. Ali eu me senti realizada, como poucas vezes me senti na vida. E de fato, foi um sonho que eu realizei...
Hoje...sei que sonho não enche mesmo a barriga de ninguém...inclusive, tive que abrir mão de dar aulas na minha área (sociologia) na rede estadual, por ter conseguido (através de concurso) um cargo na Prefeitura na área de Educação Infantil, com meu diploma do Magistério (curso normal de nível médio). Abri mão de dar aula no Estado porque as condições de trabalho e salário no estado de São Paulo são inadmissíveis...não dá mais! Ter uma aula só por semana em cada sala de aula, o que obriga o professor de sociologia e filosofia a ter mais de 1000 alunos pra ganhar uma salário de fome, arcando com todo o trabalho de manter em ordem mais de 30 diários de classe, papeletas, mais de 3000 provas e trabalhos por bimestre e etc...enfim, tive que trocar algo que estudei e me preparei pra fazer por algo mais seguro...não que não tenha estudado e me preparado para trabalhar com educação infantil, mas as aulas de Sociologia sempre foram a prioridade...e que tiveram, mais uma vez, que ficar em segundo plano.
Mas mesmo assim...não me arrependo nem um pouco de ter cursado a faculdade que cursei...me formei no que queria me formar...vivi o que que queria viver. E minha formação, com certeza me ajudará mais uma vez no meu trabalho com crianças. Meu diploma...não tem muito valor. Mas os anos que passei na faculdade, esses sim têm muito valor pra mim. Foi lá que vivi as mais intensas amizades e inimizades, foi lá que me encontrei como pessoa e fui alguém, foi lá que encontrei meu amor, com o qual construí minha família...foi lá que fiz amigos pra sempre, foi lá que passei dias e noites e festas inesquecíveis...histórias engraçadas e tristes...histórias que hoje fazem a minha história...e sou o que sou hoje, por ter passado esses anos lá...meu diploma hoje pode não me dar retorno financeiro...mas tudo o que vivi pra conseguir pegar esse diploma me realiza como pessoa. É, sonho, pode não encher barriga, mas alimenta a alma, a esperança...porque se não for pelos sonhos, pelas utopias...pra quê levantar da cama? Optar pela segurança, por dar uma boa qualidade de vida para minha família, isso sim...mas abrir mão do sonho, da utopia...não! Isso não consigo fazer...vou dormir com Hobbes todos os dias...mas acordo todos os dias com Rousseau...se não, nada mais faz sentido.

sábado, 3 de abril de 2010

Cabeça Costurada...

Dias atrás, Lara levou um tombo e cortou a cabeça...levou um ponto! Naquele desespero de socorrer e perceber o sangue escorrendo, Pai e Mãe: Pálidos e em Pânico! Aquela correria, a chave do carro, cadê, a carteirinha do convênio?... E Lara perguntando ao por a mão na cabeça... mamãe, o que isso?... É sangue Lara!!!...mas por quê?... porque você cortou a cabeça e tá saindo sangue... mas por quê?... onde nós vamos?...pro hospital, docinho!...no médico?...é...no doutor Moacir?...não, Lara, em outro médico... como ele chama?...não sei, Lara!...mas por quê?...por que o quê?...porque tenho que ir no médico?...por que sim! ...e lá vamos nós para o hospital em meio aos porquês dela...chegando lá, eu achando que ela ia ficar assustada, chorar...nada! Toda a Santa Casa de Cerquilho já sabe o seu nome, onde ela estuda, que ela tem uma amiga chamada Sofia, que também bateu a cabeça esses dias...enfim, o que era pra ser um susto, virou uma aventura! Nos dias seguintes, toda feliz só sabia dizer pra todos: olha a minha cabeça tá costurada! E eu tirei uma foto da minha cabeça! (se referindo ao raio X que o pai insistiu que tirassem se não ele não dormiria nunca mais...) E eu me afogando na eterna culpa materna...

Agora é engraçado lembrar da reação dela, dos porquês e tudo mais...mas é inevitável sentir uma culpinha por não ter conseguido evitar o tombo, e um sentimento horrível de impotência em perceber que não posso protegê-la de tudo...que a cada dia que passa fica mais difícil controlar o que acontece com ela. Perceber que sofrimento e dor chegam pra todos e é quase impossível evitar...é, mãe, ao contrário do que muitos acham, não pode tudo! Dói constatar que minha filha vai sentir dor, medo, angústia...mas, uma coisa eu sempre tive como certa, desde o dia em que descobri que estava grávida: antes de ser minha filha, ela é uma pessoa...e como tal, terá que viver tudo como qualquer pessoa, suas tristezas e alegrias, suas dores e delícias...e eu, como mãe e como pessoa, devo apoiá-la, ensiná-la, dar colo, encorajá-la, e protegê-la na medida do possível...

Mas que dói saber que eu não posso controlar tudo, isso dói!

A propósito....uma semana depois do corte, ainda com o ponto na cabeça...Lara caiu de novo e bateu o mesmo lugar da cabeça, jogando bola com o pai...só pra acabar de constatar a minha impotência...